2002: Entrevista com Guillaume Durand para o canal francês France 2 (as perguntas estão ausentes do vídeo)
“Todos os meus álbuns são negativos. (risos) Acho que se poderia considerar qualquer dos meus álbuns como profético se se ouvisse depois do 11 de setembro. Mas acho que essa é a temática com que trabalho, o conteúdo da maioria das coisas que escrevo. Houve uma continuidade de alienação e isolamento em tudo o que escrevi. Então, se há coisas sobre as quais falo, são aquele tipo de sentimentos ligeiramente negativos. Em todo o caso, este novo álbum (Heathen) é um pouco menos negativo do que outros que compus. E isso é um resultado do meu recente estatuto de pai.”
“Relativamente às pinturas, todas elas tinham sido um pouco danificadas na tela. E eu quis ilustrar o subtexto do termo “heathen” (pagão) enquanto bárbaro ou filisteu, uma não-aceitação da cultura ou da alta cultura, um desejo de destruir tudo o que criámos para nos expressarmos. E os três nomes nos livros… os três livros, na verdade, foram muito importantes no sentido em que A Gaia Ciência (obra de Nietzsche, de 1882, último trabalho da sua fase positiva), por exemplo, foi o livro em que ele afirmou que Deus estava morto, um culminar de todo o pensamento do século anterior, na parte final do século dezanove. As pessoas sentiam-se de tal modo engrandecidas pela sua perceção da ciência e pelo rescaldo do Iluminismo e de como o homem poderia melhorar o mundo… Isso, naturalmente, conduziu a coisas como a afirmação de Nietzsche de que Deus estava morto e a descoberta de Einstein de que o tempo e o espaço não eram o que imaginávamos e a compreensão de Freud da existência de outro ser humano no interior do ser humano. Tudo isso culminou na ideia de que tudo o que soubéramos antes estava errado. Tudo! Assim, o século XX começou com uma tábua rasa: agora somos os deuses. E a coisa maior que podíamos fazer enquanto deus, nesse século, foi criar a bomba. Era nisso que éramos bons. E acho que isso, nos anos cinquenta e sessenta, as repercussões do que fizemos, ao substituir a ideia de moralidade, ao criá-la, destruiu de tal modo a nossa noção do que devíamos fazer na vida que ainda estamos a viver esse caos. Não temos vidas espirituais de que falar. Há novas religiões semioficiais, mas nenhuma noção direta das nossas finalidades. Bom, isso pode ser bom por poder mostrar-nos que não temos realmente um propósito. Seremos nós suficientemente crescidos ou suficientemente maduros para existirmos assim? Seremos nós suficientemente maduros para aceitar que não há um plano, não há uma direção, que não há a dádiva da imortalidade no fim de tudo se evoluirmos? Se evoluirmos o suficiente, poderemos nunca ter que morrer… Quero dizer, essa parece ser a ideia do passado… bom, talvez não consigamos viver assim, talvez tenhamos que existir e viver com a ideia de que o que temos é um dia de cada vez. E seremos capazes de o fazer? Porque, se conseguíssemos, poderíamos estar a servir algo de importante.”
“Nenhum de nós aprendeu… Quero dizer, todos estamos a aprender a envelhecer, é a primeira vez que o estamos a fazer. (risos) Não volto a fazê-lo! Acho que é natural as pessoas gostarem de encontrar algum sentido de hierarquia nas coisas, e então, estás a ver, alguns de nós estavam a fazer as coisas muito cedo. Não sei… Gosto de Tiepolo (pintor italiano do século XVIII), gosto de Miguel Ângelo (artista italiano dos séculos XV e XV) e de Rembrandt (pintor holandês do século XVII), mas isso não implica que não goste também, e que não o ache muito sustentável, de artistas modernos deste século. Acho que temos que ser equitativos e ter alguma noção de partilha nas artes e acho que podemos usar as artes… Ok, de regresso ao rock’n’roll, acho bem ouvirmos os Beatles, mas também acho muito importante escutarmos, por exemplo, os The Streets, uma banda muito recente na cena inglesa atual. Só podemos aprender com os nossos erros… Bom, gostaria de acreditar que só podemos aprender com os nossos erros! (risos) Apesar de não achar que isso tenha mesmo acontecido…”
“Relativamente às pinturas, todas elas tinham sido um pouco danificadas na tela. E eu quis ilustrar o subtexto do termo “heathen” (pagão) enquanto bárbaro ou filisteu, uma não-aceitação da cultura ou da alta cultura, um desejo de destruir tudo o que criámos para nos expressarmos. E os três nomes nos livros… os três livros, na verdade, foram muito importantes no sentido em que A Gaia Ciência (obra de Nietzsche, de 1882, último trabalho da sua fase positiva), por exemplo, foi o livro em que ele afirmou que Deus estava morto, um culminar de todo o pensamento do século anterior, na parte final do século dezanove. As pessoas sentiam-se de tal modo engrandecidas pela sua perceção da ciência e pelo rescaldo do Iluminismo e de como o homem poderia melhorar o mundo… Isso, naturalmente, conduziu a coisas como a afirmação de Nietzsche de que Deus estava morto e a descoberta de Einstein de que o tempo e o espaço não eram o que imaginávamos e a compreensão de Freud da existência de outro ser humano no interior do ser humano. Tudo isso culminou na ideia de que tudo o que soubéramos antes estava errado. Tudo! Assim, o século XX começou com uma tábua rasa: agora somos os deuses. E a coisa maior que podíamos fazer enquanto deus, nesse século, foi criar a bomba. Era nisso que éramos bons. E acho que isso, nos anos cinquenta e sessenta, as repercussões do que fizemos, ao substituir a ideia de moralidade, ao criá-la, destruiu de tal modo a nossa noção do que devíamos fazer na vida que ainda estamos a viver esse caos. Não temos vidas espirituais de que falar. Há novas religiões semioficiais, mas nenhuma noção direta das nossas finalidades. Bom, isso pode ser bom por poder mostrar-nos que não temos realmente um propósito. Seremos nós suficientemente crescidos ou suficientemente maduros para existirmos assim? Seremos nós suficientemente maduros para aceitar que não há um plano, não há uma direção, que não há a dádiva da imortalidade no fim de tudo se evoluirmos? Se evoluirmos o suficiente, poderemos nunca ter que morrer… Quero dizer, essa parece ser a ideia do passado… bom, talvez não consigamos viver assim, talvez tenhamos que existir e viver com a ideia de que o que temos é um dia de cada vez. E seremos capazes de o fazer? Porque, se conseguíssemos, poderíamos estar a servir algo de importante.”
“Nenhum de nós aprendeu… Quero dizer, todos estamos a aprender a envelhecer, é a primeira vez que o estamos a fazer. (risos) Não volto a fazê-lo! Acho que é natural as pessoas gostarem de encontrar algum sentido de hierarquia nas coisas, e então, estás a ver, alguns de nós estavam a fazer as coisas muito cedo. Não sei… Gosto de Tiepolo (pintor italiano do século XVIII), gosto de Miguel Ângelo (artista italiano dos séculos XV e XV) e de Rembrandt (pintor holandês do século XVII), mas isso não implica que não goste também, e que não o ache muito sustentável, de artistas modernos deste século. Acho que temos que ser equitativos e ter alguma noção de partilha nas artes e acho que podemos usar as artes… Ok, de regresso ao rock’n’roll, acho bem ouvirmos os Beatles, mas também acho muito importante escutarmos, por exemplo, os The Streets, uma banda muito recente na cena inglesa atual. Só podemos aprender com os nossos erros… Bom, gostaria de acreditar que só podemos aprender com os nossos erros! (risos) Apesar de não achar que isso tenha mesmo acontecido…”