1977: Conferência de imprensa no Hotel de L'Europe, Amesterdão, em 14 de outubro, para o programa Het Popgebeuren (vários entrevistadores)
David Bowie: Eu e o Eno conseguimos um tipo de sentimento apropriado no Low e achámos que deveríamos manter-nos no mesmo local, já que é parte desta trilogia de álbuns.
Entrevistador: O que tem de especial o Hansa Studio by The Wall?
David Bowie: Bom, fica a 30 ou 40 metros do muro e há uma torre no cimo, pelo que gravamos com vista para a torre, o que nos dá a fricção necessária para gravar. O tipo de fricção de que preciso. Não é um sítio confortável para se gravar.
Entrevistador: Não. Não diria...
David Bowie: E é esse o motivo. (sorri, erguendo as sobrancelhas)
Entrevistador: Fico com a sensação de que transmite frio em vez de...
David Bowie: Não. Frio não. Sentes-te super-protegido, sentes...
Entrevistador: ... que estás no lado certo do muro.
David Bowie: O aço entra. Sentimo-lo entrar. De tal modo que desenvolvemos empatias muito fortes para com as pessoas com quem trabalhamos, uma espécie de proteção externa, algo como um manto de segurança.
Entrevistador: Berlim ainda tem um pouco daquela atmosfera a que te associo, como a decadência...
David Bowie: Oh, não, não.
Entrevistador: Nada disso?
David Bowie: Não. É uma cidade muito séria. Divertidamente séria.
Entrevistador: Há dois anos, disseste que ias acabar com tudo isto do rock...
David Bowie: Sim.
Entrevistador: Bom, em que é que ficamos?
David Bowie: Hmm, é certo que já não faço parte das listas do rock. Ou seja, a forma como vivo não tem muito que ver com o rock’n’roll. Então, centro-me na parte física da coisa. O mais perto que chego do rock é nos discos.
Entrevistador: Já não te apresentas ao vivo?
David Bowie: Sim, vou fazer uma tour para o ano. Quero muito sair numa tour. Quero tocar o Low e o Heroes.
Entrevistador: Certo. És um herói?
David Bowie: Não. Estou demitado.
Entrevistador: Sim, mas... Sentes-te bem. Mas, para muita gente, és um herói, certo?
David Bowie: Oh, não deveria ser esse o caso, de todo.
Entrevistador: É estranho que não o queiras ser, mas que as pessoas te obriguem a sê-lo?
David Bowie: Não, não acho nada disso porque, de qualquer modo, nas áreas onde vivo ninguém me conhece. Portanto, não é um problema, não.
(passa um excerto de Heroes)
David Bowie: (falando sobre Heroes) A ideia da canção, tem uma história, olhar para o muro diariamente do meio-dia até por volta da uma – durante a pausa para o almoço, claro – um rapaz e uma rapariga encontravam-se sob o muro, sob o guarda, sob a arma, num banco de jardim, um banquinho que fica junto ao muro. E encontravam-se ali, comiam as suas sanduiches e beijavam-se e acariciavam-se e o que fosse, tinham algum tipo de relacionamento. E foi uma coisa que durou durante toda a gravação, todos os dias. E achei irónico que, das centenas de lugares que poderiam ter escolhido em Berlim Ocidental, se encontrassem junto ao muro. Então, presumi que se sentissem um pouco culpados e que fossem subconscientemente atraídos para lá e que estavam a fazer algo de ilícito. E acho que credibilizavam a sua relação ao encará-la como um ato de heroísmo. E foi mais ou menos assim que a canção se desenvolveu.
(continua o excerto)
David Bowie: Hmm-la-la-la-la-la (cantarolando). (levando a mão ao ouvido) Desculpa, de que é que falavas? (risos)
Entrevistador: Estava… Estava a dizer...
David Bowie: Certamente, minha senhora! (erguendo-se no assento, para mais adiante, e rindo)
Entrevistador: Certo. Cá estamos. Estava a dizer que assim que sais da tal área protegida passas a ser um herói. Quero dizer, os miúdos...
David Bowie: (voltando-se para uma porta atrás) Entre! Não estamos a fazer nada de importante! (risos)
Entrevistador: Apenas uma entrevista.
(chega um empregado com uma bandeja)
David Bowie: Estava a ver que nunca mais entravas! (risos)
Entrevistador: Mais um copo de leite?
David Bowie: Muito bem, é disso que precisamos. As chaves do teu carro... (entrega algo, que pousa na mesa, ao entrevistador)
Entrevistador: Mais um copo de leite? Bom, então, o que queria dizer... Assim que sais da tal área protegida...
David Bowie: Eu lembro-me da pergunta. (risos)
Entrevistador: ...és um herói, quer queiras, quer não.
David Bowie: Bom, não há mais do que um par de sítios onde isso se pode tornar superficialmente um problema e estou a falar de Los Angeles e de Nova... Nova Iorque não tanto. E Londres. É um bocado difícil andar à vontade durante o dia.
Entrevistador: O poder que isso te dá, achas que é assustador?
David Bowie: Não sei. Como soe dizer-se, não tenho estado nesses ambientes desde há coisa de ano e meio, dois anos. Portanto, não me afeta. Vivo de maneira muito diferente. Vejamos, este ano saí do Japão, passei por Hong Kong, Tailândia, regressei à Alemanha, fui à Suíça...
Entrevistador: Vives num lugar específico?
David Bowie: Não. De modo nenhum.
Entrevistador: Muito bem. Ok, alguma coisa em especial a acrescentar sobre o tema Heroes, quero dizer, trata-se de se ser herói por um dia?
David Bowie: É uma canção de amor muito bonita.
Entrevistador: Ok, essa foi a primeira entrevista.
Outro entrevistador: Disseste que Heroes é uma canção de amor bonita...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Diz “podemos ser heróis por um dia”.
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Queres que as pessoas sintam isso, apenas durante um dia? Disseste que não sentias que fosses um herói...
David Bowie: Não.
Outro entrevistador: As pessoas fazem de ti um herói.
David Bowie: Não, não fazem.
Outro entrevistador: Para eles.
David Bowie: Não fazem, não. Tu não fazes de mim um herói. Eu sei que não sou um herói.
Outro entrevistador: Mas é o poder de continuar que o faz, faz com que os discos se vendam.
David Bowie: Sim. Isso é trabalho.
Outro entrevistador: Só trabalho?
David Bowie: Sim. Trabalho e o meu modo de vida.
Outro entrevistador: Hmm-hmm. Numa entrevista, já há algum tempo, disseste “Eu poderia ser um Hitler em Inglaterra”...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: “Tornaria este país enorme se quisesse”.
David Bowie: Hmm. Não acho que tenha dito que tornaria o país enorme...
Outro entrevistador: Deixa-me ver o que disseste... Disseste “Poderia fazer deste país um grande país”.
David Bowie: Não sei onde leste isso, mas não é verdade.
Outro entrevistador: É uma tradução.
David Bowie: Não, mas não é verdade.
Outro entrevistador: Tenho a sensação de que, quero dizer, absorvemos toda a informação da imprensa e é tudo o que sabemos...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Acho que mudaste. És apenas um trabalhador esforçado... já não há muita construção de imagem...
David Bowie: Atualmente, nenhuma.
Outro entrevistador: Então, estamos a falar com o David Bowie em vez de falarmos com as pessoas, os papéis, as personagens...
David Bowie: Sim, eu era uma personagem quando apresentei os outros álbuns... Alladin Sane, Ziggy Stardust, coisas assim. Hmm, e levava a personagem para as entrevistas, os jornais, o palco, fora dele... Sempre que os media estavam presentes, tinha que manter a solidez das personagens porque era importante, uma vez que o tecido do meu trabalho é a utilização do meu corpo e da minha personalidade, bem como das minhas canções e das minhas atuações em palco. A ideia assemelhava-se bastante a uma tela. Mas, agora, pus um fim a essas situações, a ficção científica do início, os foguetões na lua e os alienígenas, o que fosse. E, então, houve o período em que me relacionei com o papel da tecnologia na sociedade, nomeadamente em Diamond Dogs até antes do período de Station to Station, que concluiu com a plastic soul que deu o tom a Young Americans. Então, Station to Station era como um pedido para regressar à Europa, já que, na América, estava a endoidecer. Assim, regressei à Europa e decidi que tinha que ser capaz de descobrir uma nova forma de linguagem musical antes de poder continuar a escrever. Desse modo, os dois últimos álbuns, Low e Heroes, deram resposta às minhas situações através de um processo de descoberta, da procura de uma nova linguagem artística que me permita avançar e é isso que o Eno e eu temos andado a fazer. Mesmo.
(terceiro entrevistador)
David Bowie: Em massa? Não. É impossível importarmo-nos de forma massificada. Mas o contacto que mantenho com os poucos que me veem é muito bom e penso neles como indivíduos.
Terceiro entrevistador: Uma letra: “Todos os ninguéns, todos os alguéns” (de Rock’n’Roll Suicide)...
David Bowie: Sim.
Terceiro entrevistador: “Preciso deles”.
David Bowie: Sim. Sim. Bom, essa personagem precisava mesmo porque o mundo estava a explodir. (risos)
Terceiro entrevistador: Então, era uma personagem?
David Bowie: Sem dúvida que era uma personagem, era o Ziggy Stardust. Era o arquétipo da estrela de rock que precisava de gente.
Terceiro entrevistador: Agora, de regresso ao novo álbum, a música soa-me um bocado alienada e, por isso, fico muito surpreendido...
David Bowie: Alienada de quê?
Terceiro entrevistador: De... de... de... ok, do meu mundo.
David Bowie: Do teu mundo.
Terceiro entrevistador: Consegues entender isso ou...?
David Bowie: Sim. Consigo porque se trata de uma nova língua. Gostarias de conhecer o processo de escrita? Pode ajudar-te a compreender...
Terceiro entrevistador: Sim.
David Bowie: Para lá da sua estilização, além de uma forma de escrita ligeiramente diferente, o Brian e eu tentávamos escrever em tantos processos e tantas formas diferentes quanto conseguíssemos. O objetivo era descobrir essa dita linguagem, linguagem artística. E um dos processos que usámos foi que o Brian pensava em afirmações que queria fazer, musicalmente, e eu pensava nas afirmações que pretendia fazer, musicalmente, e nenhum contava ao outro de que afirmações se tratava. E aparecíamos com um tema musical de base que podia ser o alicerce e talvez uma sequência ou um conjunto de compassos que estavam numa tonalidade e outro noutra tonalidade. Então, íamos ambos embora e e escrevíamos sobre as nossas afirmações pessoais e regressávamos e gravávamos o que estávamos a fazer. Depois, escutávamos. (risos) E era fenomenal conseguirmos uma terceira informação. Uma informação que nem o Brian, nem eu sabíamos que ia surgir. Então, o álbum, para nós, quando o terminamos, é uma surpresa. Às vezes muito agradável, outras bastante...
Terceiro entrevistador: É isso? Não há...
David Bowie: Oh, e trabalhamos sobre essas informações, mas muito raramente contamos um ao outro o que estamos a fazer.
(entrevistador diferente)
Entrevistador diferente: Durante quanto tempo achas que vais poder continuar a escrever assim?
David Bowie: Bom, essa é apenas uma maneira. É o que estou a dizer. O processo mudou em quase todas as faixas. É por isso que o álbum contém uma variedade tão grande de informação musical. Porque raramente o processo era o mesmo em diferentes faixas.
Entrevistador diferente: Não achas surpreendente que, atualmente, os miúdos compram ou estão na onda do punk ou da new wave, tudo isso, e compram o teu álbum, este tipo de música, não é espantoso?
David Bowie: É, não é?
Entrevistador diferente: Sim.
David Bowie: (risos) Que é que hei de dizer? Estou contentíssimo. Mas sou muito presunçoso porque também sou muito tendencioso, considero o que estamos a fazer parte de uma nova onda ou de uma nova velha onda. (risos)
Entrevistador diferente: Achas que as vendas do álbum ainda têm muito que ver com a tua mediatização?
David Bowie: Não vi nenhuma mediatização.
Entrevistador diferente: Não?
David Bowie: Não. Se surge, surge de vocês. Fico muito contente, muito obrigado.
Entrevistador diferente: Gostas de punk?
David Bowie: Não ouvi punk, vi muito punk. Ainda não ouvi o rock. Vejo uma categoria, vejo... há a arte abstrata de meados dos anos sessenta, a, hmm... (o telefone toca) Sim, o que é? (rindo) (alguém atende o telefone) É melhor assim. Hmm... (alguém pergunta por alguém) Está na outra sala. A arte conceptual dos anos sessenta tinha muito que ver com o punk rock enquanto movimento, acho, no sentido em que não era experimentado, teorizava-se sobre ela e acho que, neste momento, como sempre, os media estão a criar uma categoria. E continua a existir um vácuo. Ainda não há nada que o preencha exceto, talvez, duas ou três bandas. Relativamente às bandas, as que vi, acho que há muito entusiasmo entre elas, o que considero ótimo. Mas ainda se está a adotar uma pose e a pensar em alguma coisa perigosa para se dizer. Mas ainda não têm nada. Alguém há de lá chegar, suponho...
Entrevistador diferente: Já descobriste algum talento?
David Bowie: Devo. (a cantar de forma brincalhona) “Are you a man? We are Devo”. Devo. Uma banda americana.
Entrevistador diferente: Vais trabalhar com eles?
David Bowie: Sim, vou produzi-los. (risos) Sinto-me estimulado pela ideia.
Entrevistador diferente: Chegamos, agora, ao Iggy Pop. Há quem diga que se trata de pré-punk. Já tinha uma espécie de sentido new wave no início dos anos setenta, quando estava com os Stooges.
David Bowie: Poderia fazer-te uma surpresa... (volta-se) Vá lá, Jim, aparece! (todos se riem) Hmm, sim, continua...
Entrevistador diferente: Ele dá-se por inteiro quando está no palco.
David Bowie: Sim, sim.
Entrevistador diferente: Arranha-se, faz de tudo...
David Bowie: Atua de uma forma fisicamente muito extravagante.
Entrevistador diferente: Achas que isso é bom para um artista? Tu, por exemplo, fá-lo-ias?
David Bowie: Não me cabe opinar acerca disso, acerca do que o Jim faz, admiro muito o Jim, sempre gostei do que ele fez e queria envolver-me porque achava que as pessoas não o tomavam realmente a sério ou de todo. Sempre me interessei pelos inadaptados musicais e a parte mais difícil de trabalhar com o Jim foi conseguir que os outros, bem como a indústria da música, o tomassem a sério. Quero dizer, foi mesmo difícil. E claro que, agora, está a acontecer. Não me cabe julgar a forma como se apresenta em palco porque foi isso mesmo que me atraiu logo de início.
Entrevistador diferente: Quando há um nome da grandeza de um David Bowie é fácil conseguir-se o empurrão necessário...
David Bowie: Acho que isso é de um ingenuidade tal que... Não achei que pensasses... Se não fosse bom, não venderia. Ou seja, se o Jimmy não fosse bom em palco as pessoas não iriam aos concertos e não sentiriam o estímulo. Hmm, se fossem, não voltariam a ir. Já foram e regressam. Porque ele é muito estimulante no palco e musicalmente. Como com qualquer produto publicitado pelos media, o facto de o primeiro vender não significa necessariamente que mais alguma coisa volte a vender. Mas compram os discos do Jimmy porque ele faz música mesmo boa.
Entrevistador diferente: Achas-te poderoso?
David Bowie: (com um sorriso de surpresa) Tens a mania do poder, não tens? (risos) Bom, meu Deus, não. Hmm, não, não vejo o que faço em termos de poder. Sou um observador social bastante razoável e acho que capturo áreas, mais ou menos a cada ano. Procuro materializá-las em algum lado, o que representa esse ano em vez do que foi ou o que vai ser. Tento muito capturar os competidores do ano. Então, trata-se de um desempenho ativo ao longo do ano inteiro porque andamos a escavar durante 365 dias. Em resultado, posso parecer muito ativo. Sem dúvida que sou! (dito num tom de voz grave e brincalhão; ri)
Entrevistador diferente: Falas numa trilogia de discos...
David Bowie: Sim.
Entrevistador diferente: Ainda falta um na série?
David Bowie: Sim.
Entrevistador diferente: Já estás a trabalhar nele?
David Bowie: Sim. Também vou aos Estados Unidos daqui a umas semanas e estou a trabalhar num álbum do Robert Fripp porque me pediu. Pediu-me para trabalhar com ele em Nova Iorque.
Mais um entrevistador: Ok. Vou falar um pouco sobre o show business em geral...
David Bowie: Fala-me lá disso. (risos)
Mais um entrevistador: Exato. Fala-nos disso.
David Bowie: Não, fala-nos tu disso. (risos)
Mais um entrevistador: Sentiste que foste abandonado, nestes últimos anos, pelos outros, pelas discográficas, pelos managements, por...
David Bowie: Eis uma pergunta extraordinária... Sim, atualmente é bastante apropriada. Posso ousar dizer alguma coisa sobre isso?
Mais um entrevistador: Claro.
David Bowie: Sobre as fendas...
Mais um entrevistador: Sim.
David Bowie: Posso? Sim, estou um bocado abandonado porque há alguns malucos por aí e eu...
Mais um entrevistador: Quero dizer, o conjunto da carreira...
David Bowie: Sei o que queres dizer. Estou à venda? Não. Durante os últimos dois anos alinhavei consideravelmente a minha vida. Hmm, e não estou envolvido no show business de nenhuma forma ou maneira. A minha vida é incrivelmente conservadora. Aventurosa porque viajo muito. Não vivo em nenhum local específico, não tenho casa em lado nenhum, nunca tive, nunca vou ter.
Mais um entrevistador: A tua imagem não tem quase nada que ver com a tua vida real, certo? Quero dizer, a tua imagem nas revistas e...
David Bowie: Hmm, depende de que imagem falamos. Já vi tantas porque, claro, tem que haver tantas, é como olhar para os filmes de um ator e retirar bocados de película dos filmes e dizer “Cá está ele”...
Mais um entrevistador: É muito diferente da maioria das estrelas de rock...
David Bowie: Sabes, não sou uma estrela de rock, compreendes? Tu próprio o disseste, não estou no rock’n’roll.
Mais um entrevistador: Isso é bom.
David Bowie: (acaba de beber um copo de leite) Estou mesmo com muita sede.
Mais um entrevistador: Muito bem, David. Talvez, para ti, se trate do passado, mas gostarias de falar sobre as tuas experiências no show business e...
David Bowie: (em tom de voz brincalhão) Bom, havia uma rapariga... E tivemos uma ligação! (todos se riem) Que experiências?
Mais um entrevistador: Hmm, concertos para dez mil pessoas...
David Bowie: Oh, sim.
Mais um entrevistador: As discográficas atrás de ti...
David Bowie: Sim.
Mais um entrevistador: Mediatização.
David Bowie: (risos) Estás determinado a colocar-me nessa...
Mais um entrevistador: Não, estiveste lá.
David Bowie: Sim, estive e deixa-me que te diga que é pegajoso. É como as trincheiras. É como sair para algum tipo de manobra militar, todo o processo. Hmm, é como isso do rock numa tour, há sargentos principais e os denominados pros e era “Ok, façam as malas! Em frente!”. E, então, armávamos as tendas num Hilton frio e em alguns Holiday Inns e... Detesto o processo. Acho-o abominável.
Mais um entrevistador: Começou por pretender ser rock’n’roll informal e transformou-se no tipo de coisa de uma grande corporação?
David Bowie: Uma enorme arena, sim. Eles conseguem fazê-lo.
Mais um entrevistador: É o mesmo com a indústria discográfica?
David Bowie: Hmm, sim, atualmente não lido com essa gente de modo muito direto. Ou seja, não tenho nenhum tipo de gestão. Antes, nunca sabia o que se passava. Estava fora de tudo o que acontecia porque essas (começa a falar num tom brincalhão, enfatizando responsabilidade) responsabilidades, David, foram-te retiradas, David, para que possas ter liberdade para compor, David. (faz o gesto de contar notas de banco) Eu compunha e eles ganhavam dinheiro.
Mais um entrevistador: Não há gestão?
David Bowie: Não, não há gestão.
Mais um entrevistador: Então, quem trata da contabilidade?
David Bowie: Bom, eu e mais alguém.
Mais um entrevistador: Certo. Hmm, entrevistas...
David Bowie: Hmm.
Mais um entrevistador: Dás muitas?
David Bowie: Não, é a primeira vez que faço algo assim para um álbum. E, para ser honesto, a razão pela qual o faço é que quero dar ao álbum o máximo de oportunidades possível. Porque se trata de um... (num tom brincalhão) Bom, se não soubesse que ia chegar ao ouro em três dias, não o teria comprado! (risos) Com toda a honestidade, é por isso que aqui estou... Para fazer isso. Não esperava que o recebessem com tanto entusiasmo. Estou espantadíssimo.
Mais um entrevistador: Quando te sentas com novos jornalistas e novas perguntas e...
David Bowie: Novas perguntas, a maioria das vezes, não. (sorri)
Mais um entrevistador: Ok. Tens alguma pergunta para mim?
David Bowie: Oh, não. Eu tendo a... Eu costumo reagir com uma tentativa de destruir a entrevista! (risos) E isso costuma levar a novas perguntas.
Mais um entrevistador: Mas... Estava a pensar... Só fazes isto talvez uma vez por ano...
David Bowie: Sim. Bom, é a ideia de me tornar numa máquina se me perguntarem, no mesmo dia, a mesma coisa umas dez vezes, se forem dez pessoas diferentes. Sinto-me muito tentado a inventar novas respostas porque me aborreço muito rapidamente. (risos) E sinto-me um papagaio à quinta entrevista. E algo de muito estéril e bolorento quando chego à décima.
Mais um entrevistador: Fazem-te perguntas sobre coisas que disseste há já dez anos.
David Bowie: Oh, sim. Mas eu costumava fazer uma coisa horrível que parei de fazer. Hmm... Lia algo que nunca tinha dito num jornal e adotava esse ponto de vista para perceber que tipo de reação causaria e se surgiria uma terceira reação a partir daí. Então, divertia-me bastante a mergulhar nas ideias que os outros tinham de mim, a adotá-las durante algum tempo.
Mais um entrevistador: Às vezes, isso escapava um bocado ao controlo...
David Bowie: Oh, claro! Mas eu trabalho em terreno perigoso. Quero dizer, é por isso que...
Mais um entrevistador: E as pessoas começam a falar de ti como sendo um fascista e tudo o mais...
David Bowie: Sim, eu sei. É atroz.
Mais um entrevistador: Sim. Mas não passa de um disparate.
David Bowie: Sou inteiramente apolítico! (risos) Em absoluto. Não tenho... Não me cabe fazer política, sendo o tipo de artista que sou, ou seja, alguém que procura capturar o ritmo das variações.
Mais um entrevistador: Hmm-hmm...
David Bowie: E adotar qualquer visão política ou fazer política, porque o meu trabalho consiste em observar o que acontece. E quaisquer declarações que possa ter feito nesse sentido foram uma reação geral e uma observação teatral do que me parecia ver que estava a acontecer em Inglaterra.
Mais um entrevistador: Certo. E ainda não aconteceu, mas...
David Bowie: Não, não aconteceu, graças a Deus. Mas que é que se faz com isso? Ridiculariza-se. É logo a primeira coisa a fazer. Senti-me espantado que ninguém reparasse no que estava a acontecer. E parece que a atenção para essa situação cresceu desde que falei.
Mais um entrevistador: Era o que ia dizer. Quero dizer, estávamos a discutir o poder e disseste que tínhamos a mania do...
David Bowie: Não, não se trata de poder, trata-se de observação social, se não te importas... O poder pertence aos media. Eu talvez tenha... hmm...
Mais um entrevistador: Mas são os media que falam contigo...
David Bowie: Tenho as observações... Oh, sim, mas é a sua combinação e o seu enredar do que é e do que não é e do que fariam com que fosse que oferece às pessoas uma informação muito distorcida de pontos de vista.
Mais um entrevistador: Bom, voltemos a isto só por um instante, quero dizer, podes negá-lo ou não, mas o que se passa é que cem mil miúdos te tratam como, leem tudo o que dizes...
David Bowie: Não acho. Estás a ver, isso é uma generalização. Um puto não sai e vive a sua vida em função de mim. Pode comprar os meus álbuns quando saem, pode adotar o meu estilo de cabelo, mas é aí que tudo termina. Nunca vi, relativamente a nenhum ídolo do rock, os miúdos de tal forma embriagados por tudo que o vivam como o seu mito. Acho que estamos a ir longe demais, não é assim que funciona. Não digas às pessoas que funciona assim porque não é verdade.
Mais um entrevistador: Eu sei. Só te queria ouvir dizê-lo.
David Bowie: Bom, acabaste de o ouvir. (risos)
Mais um entrevistador: Ver as pessoas conduzir as suas vidas de acordo com a tua ou coisa do género...
David Bowie: Não acho de todo que seja esse o caso. Acho que o ouvinte médio de rock coleciona informação a partir dos discos e dos concertos e não de uma natureza etérea. É difícil dizer que informação possa ser, mas é por isso que as pessoas vão aos concertos de rock. E eu gosto do processo de dar e receber informação, que é o que acho que acontece.
Mais um entrevistador: Uma das coisas que referiste frequentemente foi que as pessoas precisam de um líder, certo? E isso liga-se ao rock’n’roll, o que leva as pessoas a procurar músicos com quem possam...
David Bowie: O líder que poderão ter é o que os olha diretamente do espelho. Então, têm que ser capazes de compreender esse espelho muito bem. Nessa altura, essa pessoa poderá liderá-los.
Mais um entrevistador: Achas que podes fazer isso se, por exemplo, relativizares toda a situação?
David Bowie: Não sei. (em tom de brincadeira) Ouve, ó amigo, não sou psiquiatra! (risos)
Outro entrevistador ainda: Disseste que as pessoas não se guiam por ti, mas achas que poderás influenciar um pouco a forma como pensam? Porque ouvem os teus discos, vão aos teus concertos...
David Bowie: A influência só é aceitável se for assumida pela pessoa por iniciativa própria. Hmm... Não. Não influenciar da maneira como acho que pretendes implicar... Corrige-me se estiver errado... Mas estás a falar numa influência insidiosa, um tipo de influência rastejante que leva as pessoas a fazerem coisas inconscientemente porque parece que estou a dizer que o façam? É isso que queres dizer?
Outro entrevistador ainda: Sim.
David Bowie: Não. Não. Porque há demasiadas imagens para que as pessoas possam ser influenciadas por alguma coisa específica. E é o que estou a procurar fazer com a nova música, encontrar uma nova linguagem que não tenha esse tipo de influência imagética.
Outro entrevistador ainda: Achas que as pessoas compreendem essa linguagem?
David Bowie: Acho que sim, com certeza. Porque acho que as pessoas, especialmente num contexto de cidade, pensam por fragmentos, ao contrário de alguém do campo que pensa de modo mais linear... Bom, trata-se de um tipo de filosofia muito batida e relaxada. Mas é... Pensam de modo muito mais linear, em frases conectadas. Os agricultores podem pensar “Vejo uma vaca no campo, ela dá-me leite”. Estou com a mania do leite hoje! “Dá-me leite”. Mas alguém da cidade vê uma camioneta que passa na rua e pode pensar “O que é que vai ser o jantar? Um rapaz é atropelado por um autocarro. Fenda contra muro”. Esse tipo de coisas. Então, está a pensar em termos de, talvez, mil imagens diferentes a cada instante. E não sabe que está a pensar de um modo diferente dos seus antepassados. E a linguagem que o Brian e eu estamos a criar é uma linguagem que se pode relacionar com esse modo de pensar.
Outro entrevistador ainda: Achas estranho que, daqui por uns anos, estejas a tocar para públicos mais ou menos com a idade do teu filho?
David Bowie: Hmm... Eu... É isso que vou estar a fazer? Meu Deus!
Outro entrevistador ainda: É isso que vais estar a fazer. Quero dizer, miúdos que foram ao teu espetáculo têm uns 7, 8 anos...
David Bowie: Foi extraordinário. Nunca antes vi ninguém tão novo ir a um espetáculo. Quero dizer, 7 ou 8 anos... É estranho.
Outro entrevistador ainda: Alguma vez tocarás em Las Vegas?
David Bowie: Oh! (risos) Las Vegas? Não, não estou a ver isso acontecer. Não está, de modo algum, no meu horizonte mais próximo.
Outro entrevistador ainda: Ok. Obrigado.
David Bowie: Obrigado e (dirigindo-se aos restantes jornalistas) obrigado.
(adicionado em 18 de julho de 2019)
Entrevistador: O que tem de especial o Hansa Studio by The Wall?
David Bowie: Bom, fica a 30 ou 40 metros do muro e há uma torre no cimo, pelo que gravamos com vista para a torre, o que nos dá a fricção necessária para gravar. O tipo de fricção de que preciso. Não é um sítio confortável para se gravar.
Entrevistador: Não. Não diria...
David Bowie: E é esse o motivo. (sorri, erguendo as sobrancelhas)
Entrevistador: Fico com a sensação de que transmite frio em vez de...
David Bowie: Não. Frio não. Sentes-te super-protegido, sentes...
Entrevistador: ... que estás no lado certo do muro.
David Bowie: O aço entra. Sentimo-lo entrar. De tal modo que desenvolvemos empatias muito fortes para com as pessoas com quem trabalhamos, uma espécie de proteção externa, algo como um manto de segurança.
Entrevistador: Berlim ainda tem um pouco daquela atmosfera a que te associo, como a decadência...
David Bowie: Oh, não, não.
Entrevistador: Nada disso?
David Bowie: Não. É uma cidade muito séria. Divertidamente séria.
Entrevistador: Há dois anos, disseste que ias acabar com tudo isto do rock...
David Bowie: Sim.
Entrevistador: Bom, em que é que ficamos?
David Bowie: Hmm, é certo que já não faço parte das listas do rock. Ou seja, a forma como vivo não tem muito que ver com o rock’n’roll. Então, centro-me na parte física da coisa. O mais perto que chego do rock é nos discos.
Entrevistador: Já não te apresentas ao vivo?
David Bowie: Sim, vou fazer uma tour para o ano. Quero muito sair numa tour. Quero tocar o Low e o Heroes.
Entrevistador: Certo. És um herói?
David Bowie: Não. Estou demitado.
Entrevistador: Sim, mas... Sentes-te bem. Mas, para muita gente, és um herói, certo?
David Bowie: Oh, não deveria ser esse o caso, de todo.
Entrevistador: É estranho que não o queiras ser, mas que as pessoas te obriguem a sê-lo?
David Bowie: Não, não acho nada disso porque, de qualquer modo, nas áreas onde vivo ninguém me conhece. Portanto, não é um problema, não.
(passa um excerto de Heroes)
David Bowie: (falando sobre Heroes) A ideia da canção, tem uma história, olhar para o muro diariamente do meio-dia até por volta da uma – durante a pausa para o almoço, claro – um rapaz e uma rapariga encontravam-se sob o muro, sob o guarda, sob a arma, num banco de jardim, um banquinho que fica junto ao muro. E encontravam-se ali, comiam as suas sanduiches e beijavam-se e acariciavam-se e o que fosse, tinham algum tipo de relacionamento. E foi uma coisa que durou durante toda a gravação, todos os dias. E achei irónico que, das centenas de lugares que poderiam ter escolhido em Berlim Ocidental, se encontrassem junto ao muro. Então, presumi que se sentissem um pouco culpados e que fossem subconscientemente atraídos para lá e que estavam a fazer algo de ilícito. E acho que credibilizavam a sua relação ao encará-la como um ato de heroísmo. E foi mais ou menos assim que a canção se desenvolveu.
(continua o excerto)
David Bowie: Hmm-la-la-la-la-la (cantarolando). (levando a mão ao ouvido) Desculpa, de que é que falavas? (risos)
Entrevistador: Estava… Estava a dizer...
David Bowie: Certamente, minha senhora! (erguendo-se no assento, para mais adiante, e rindo)
Entrevistador: Certo. Cá estamos. Estava a dizer que assim que sais da tal área protegida passas a ser um herói. Quero dizer, os miúdos...
David Bowie: (voltando-se para uma porta atrás) Entre! Não estamos a fazer nada de importante! (risos)
Entrevistador: Apenas uma entrevista.
(chega um empregado com uma bandeja)
David Bowie: Estava a ver que nunca mais entravas! (risos)
Entrevistador: Mais um copo de leite?
David Bowie: Muito bem, é disso que precisamos. As chaves do teu carro... (entrega algo, que pousa na mesa, ao entrevistador)
Entrevistador: Mais um copo de leite? Bom, então, o que queria dizer... Assim que sais da tal área protegida...
David Bowie: Eu lembro-me da pergunta. (risos)
Entrevistador: ...és um herói, quer queiras, quer não.
David Bowie: Bom, não há mais do que um par de sítios onde isso se pode tornar superficialmente um problema e estou a falar de Los Angeles e de Nova... Nova Iorque não tanto. E Londres. É um bocado difícil andar à vontade durante o dia.
Entrevistador: O poder que isso te dá, achas que é assustador?
David Bowie: Não sei. Como soe dizer-se, não tenho estado nesses ambientes desde há coisa de ano e meio, dois anos. Portanto, não me afeta. Vivo de maneira muito diferente. Vejamos, este ano saí do Japão, passei por Hong Kong, Tailândia, regressei à Alemanha, fui à Suíça...
Entrevistador: Vives num lugar específico?
David Bowie: Não. De modo nenhum.
Entrevistador: Muito bem. Ok, alguma coisa em especial a acrescentar sobre o tema Heroes, quero dizer, trata-se de se ser herói por um dia?
David Bowie: É uma canção de amor muito bonita.
Entrevistador: Ok, essa foi a primeira entrevista.
Outro entrevistador: Disseste que Heroes é uma canção de amor bonita...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Diz “podemos ser heróis por um dia”.
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Queres que as pessoas sintam isso, apenas durante um dia? Disseste que não sentias que fosses um herói...
David Bowie: Não.
Outro entrevistador: As pessoas fazem de ti um herói.
David Bowie: Não, não fazem.
Outro entrevistador: Para eles.
David Bowie: Não fazem, não. Tu não fazes de mim um herói. Eu sei que não sou um herói.
Outro entrevistador: Mas é o poder de continuar que o faz, faz com que os discos se vendam.
David Bowie: Sim. Isso é trabalho.
Outro entrevistador: Só trabalho?
David Bowie: Sim. Trabalho e o meu modo de vida.
Outro entrevistador: Hmm-hmm. Numa entrevista, já há algum tempo, disseste “Eu poderia ser um Hitler em Inglaterra”...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: “Tornaria este país enorme se quisesse”.
David Bowie: Hmm. Não acho que tenha dito que tornaria o país enorme...
Outro entrevistador: Deixa-me ver o que disseste... Disseste “Poderia fazer deste país um grande país”.
David Bowie: Não sei onde leste isso, mas não é verdade.
Outro entrevistador: É uma tradução.
David Bowie: Não, mas não é verdade.
Outro entrevistador: Tenho a sensação de que, quero dizer, absorvemos toda a informação da imprensa e é tudo o que sabemos...
David Bowie: Sim.
Outro entrevistador: Acho que mudaste. És apenas um trabalhador esforçado... já não há muita construção de imagem...
David Bowie: Atualmente, nenhuma.
Outro entrevistador: Então, estamos a falar com o David Bowie em vez de falarmos com as pessoas, os papéis, as personagens...
David Bowie: Sim, eu era uma personagem quando apresentei os outros álbuns... Alladin Sane, Ziggy Stardust, coisas assim. Hmm, e levava a personagem para as entrevistas, os jornais, o palco, fora dele... Sempre que os media estavam presentes, tinha que manter a solidez das personagens porque era importante, uma vez que o tecido do meu trabalho é a utilização do meu corpo e da minha personalidade, bem como das minhas canções e das minhas atuações em palco. A ideia assemelhava-se bastante a uma tela. Mas, agora, pus um fim a essas situações, a ficção científica do início, os foguetões na lua e os alienígenas, o que fosse. E, então, houve o período em que me relacionei com o papel da tecnologia na sociedade, nomeadamente em Diamond Dogs até antes do período de Station to Station, que concluiu com a plastic soul que deu o tom a Young Americans. Então, Station to Station era como um pedido para regressar à Europa, já que, na América, estava a endoidecer. Assim, regressei à Europa e decidi que tinha que ser capaz de descobrir uma nova forma de linguagem musical antes de poder continuar a escrever. Desse modo, os dois últimos álbuns, Low e Heroes, deram resposta às minhas situações através de um processo de descoberta, da procura de uma nova linguagem artística que me permita avançar e é isso que o Eno e eu temos andado a fazer. Mesmo.
(terceiro entrevistador)
David Bowie: Em massa? Não. É impossível importarmo-nos de forma massificada. Mas o contacto que mantenho com os poucos que me veem é muito bom e penso neles como indivíduos.
Terceiro entrevistador: Uma letra: “Todos os ninguéns, todos os alguéns” (de Rock’n’Roll Suicide)...
David Bowie: Sim.
Terceiro entrevistador: “Preciso deles”.
David Bowie: Sim. Sim. Bom, essa personagem precisava mesmo porque o mundo estava a explodir. (risos)
Terceiro entrevistador: Então, era uma personagem?
David Bowie: Sem dúvida que era uma personagem, era o Ziggy Stardust. Era o arquétipo da estrela de rock que precisava de gente.
Terceiro entrevistador: Agora, de regresso ao novo álbum, a música soa-me um bocado alienada e, por isso, fico muito surpreendido...
David Bowie: Alienada de quê?
Terceiro entrevistador: De... de... de... ok, do meu mundo.
David Bowie: Do teu mundo.
Terceiro entrevistador: Consegues entender isso ou...?
David Bowie: Sim. Consigo porque se trata de uma nova língua. Gostarias de conhecer o processo de escrita? Pode ajudar-te a compreender...
Terceiro entrevistador: Sim.
David Bowie: Para lá da sua estilização, além de uma forma de escrita ligeiramente diferente, o Brian e eu tentávamos escrever em tantos processos e tantas formas diferentes quanto conseguíssemos. O objetivo era descobrir essa dita linguagem, linguagem artística. E um dos processos que usámos foi que o Brian pensava em afirmações que queria fazer, musicalmente, e eu pensava nas afirmações que pretendia fazer, musicalmente, e nenhum contava ao outro de que afirmações se tratava. E aparecíamos com um tema musical de base que podia ser o alicerce e talvez uma sequência ou um conjunto de compassos que estavam numa tonalidade e outro noutra tonalidade. Então, íamos ambos embora e e escrevíamos sobre as nossas afirmações pessoais e regressávamos e gravávamos o que estávamos a fazer. Depois, escutávamos. (risos) E era fenomenal conseguirmos uma terceira informação. Uma informação que nem o Brian, nem eu sabíamos que ia surgir. Então, o álbum, para nós, quando o terminamos, é uma surpresa. Às vezes muito agradável, outras bastante...
Terceiro entrevistador: É isso? Não há...
David Bowie: Oh, e trabalhamos sobre essas informações, mas muito raramente contamos um ao outro o que estamos a fazer.
(entrevistador diferente)
Entrevistador diferente: Durante quanto tempo achas que vais poder continuar a escrever assim?
David Bowie: Bom, essa é apenas uma maneira. É o que estou a dizer. O processo mudou em quase todas as faixas. É por isso que o álbum contém uma variedade tão grande de informação musical. Porque raramente o processo era o mesmo em diferentes faixas.
Entrevistador diferente: Não achas surpreendente que, atualmente, os miúdos compram ou estão na onda do punk ou da new wave, tudo isso, e compram o teu álbum, este tipo de música, não é espantoso?
David Bowie: É, não é?
Entrevistador diferente: Sim.
David Bowie: (risos) Que é que hei de dizer? Estou contentíssimo. Mas sou muito presunçoso porque também sou muito tendencioso, considero o que estamos a fazer parte de uma nova onda ou de uma nova velha onda. (risos)
Entrevistador diferente: Achas que as vendas do álbum ainda têm muito que ver com a tua mediatização?
David Bowie: Não vi nenhuma mediatização.
Entrevistador diferente: Não?
David Bowie: Não. Se surge, surge de vocês. Fico muito contente, muito obrigado.
Entrevistador diferente: Gostas de punk?
David Bowie: Não ouvi punk, vi muito punk. Ainda não ouvi o rock. Vejo uma categoria, vejo... há a arte abstrata de meados dos anos sessenta, a, hmm... (o telefone toca) Sim, o que é? (rindo) (alguém atende o telefone) É melhor assim. Hmm... (alguém pergunta por alguém) Está na outra sala. A arte conceptual dos anos sessenta tinha muito que ver com o punk rock enquanto movimento, acho, no sentido em que não era experimentado, teorizava-se sobre ela e acho que, neste momento, como sempre, os media estão a criar uma categoria. E continua a existir um vácuo. Ainda não há nada que o preencha exceto, talvez, duas ou três bandas. Relativamente às bandas, as que vi, acho que há muito entusiasmo entre elas, o que considero ótimo. Mas ainda se está a adotar uma pose e a pensar em alguma coisa perigosa para se dizer. Mas ainda não têm nada. Alguém há de lá chegar, suponho...
Entrevistador diferente: Já descobriste algum talento?
David Bowie: Devo. (a cantar de forma brincalhona) “Are you a man? We are Devo”. Devo. Uma banda americana.
Entrevistador diferente: Vais trabalhar com eles?
David Bowie: Sim, vou produzi-los. (risos) Sinto-me estimulado pela ideia.
Entrevistador diferente: Chegamos, agora, ao Iggy Pop. Há quem diga que se trata de pré-punk. Já tinha uma espécie de sentido new wave no início dos anos setenta, quando estava com os Stooges.
David Bowie: Poderia fazer-te uma surpresa... (volta-se) Vá lá, Jim, aparece! (todos se riem) Hmm, sim, continua...
Entrevistador diferente: Ele dá-se por inteiro quando está no palco.
David Bowie: Sim, sim.
Entrevistador diferente: Arranha-se, faz de tudo...
David Bowie: Atua de uma forma fisicamente muito extravagante.
Entrevistador diferente: Achas que isso é bom para um artista? Tu, por exemplo, fá-lo-ias?
David Bowie: Não me cabe opinar acerca disso, acerca do que o Jim faz, admiro muito o Jim, sempre gostei do que ele fez e queria envolver-me porque achava que as pessoas não o tomavam realmente a sério ou de todo. Sempre me interessei pelos inadaptados musicais e a parte mais difícil de trabalhar com o Jim foi conseguir que os outros, bem como a indústria da música, o tomassem a sério. Quero dizer, foi mesmo difícil. E claro que, agora, está a acontecer. Não me cabe julgar a forma como se apresenta em palco porque foi isso mesmo que me atraiu logo de início.
Entrevistador diferente: Quando há um nome da grandeza de um David Bowie é fácil conseguir-se o empurrão necessário...
David Bowie: Acho que isso é de um ingenuidade tal que... Não achei que pensasses... Se não fosse bom, não venderia. Ou seja, se o Jimmy não fosse bom em palco as pessoas não iriam aos concertos e não sentiriam o estímulo. Hmm, se fossem, não voltariam a ir. Já foram e regressam. Porque ele é muito estimulante no palco e musicalmente. Como com qualquer produto publicitado pelos media, o facto de o primeiro vender não significa necessariamente que mais alguma coisa volte a vender. Mas compram os discos do Jimmy porque ele faz música mesmo boa.
Entrevistador diferente: Achas-te poderoso?
David Bowie: (com um sorriso de surpresa) Tens a mania do poder, não tens? (risos) Bom, meu Deus, não. Hmm, não, não vejo o que faço em termos de poder. Sou um observador social bastante razoável e acho que capturo áreas, mais ou menos a cada ano. Procuro materializá-las em algum lado, o que representa esse ano em vez do que foi ou o que vai ser. Tento muito capturar os competidores do ano. Então, trata-se de um desempenho ativo ao longo do ano inteiro porque andamos a escavar durante 365 dias. Em resultado, posso parecer muito ativo. Sem dúvida que sou! (dito num tom de voz grave e brincalhão; ri)
Entrevistador diferente: Falas numa trilogia de discos...
David Bowie: Sim.
Entrevistador diferente: Ainda falta um na série?
David Bowie: Sim.
Entrevistador diferente: Já estás a trabalhar nele?
David Bowie: Sim. Também vou aos Estados Unidos daqui a umas semanas e estou a trabalhar num álbum do Robert Fripp porque me pediu. Pediu-me para trabalhar com ele em Nova Iorque.
Mais um entrevistador: Ok. Vou falar um pouco sobre o show business em geral...
David Bowie: Fala-me lá disso. (risos)
Mais um entrevistador: Exato. Fala-nos disso.
David Bowie: Não, fala-nos tu disso. (risos)
Mais um entrevistador: Sentiste que foste abandonado, nestes últimos anos, pelos outros, pelas discográficas, pelos managements, por...
David Bowie: Eis uma pergunta extraordinária... Sim, atualmente é bastante apropriada. Posso ousar dizer alguma coisa sobre isso?
Mais um entrevistador: Claro.
David Bowie: Sobre as fendas...
Mais um entrevistador: Sim.
David Bowie: Posso? Sim, estou um bocado abandonado porque há alguns malucos por aí e eu...
Mais um entrevistador: Quero dizer, o conjunto da carreira...
David Bowie: Sei o que queres dizer. Estou à venda? Não. Durante os últimos dois anos alinhavei consideravelmente a minha vida. Hmm, e não estou envolvido no show business de nenhuma forma ou maneira. A minha vida é incrivelmente conservadora. Aventurosa porque viajo muito. Não vivo em nenhum local específico, não tenho casa em lado nenhum, nunca tive, nunca vou ter.
Mais um entrevistador: A tua imagem não tem quase nada que ver com a tua vida real, certo? Quero dizer, a tua imagem nas revistas e...
David Bowie: Hmm, depende de que imagem falamos. Já vi tantas porque, claro, tem que haver tantas, é como olhar para os filmes de um ator e retirar bocados de película dos filmes e dizer “Cá está ele”...
Mais um entrevistador: É muito diferente da maioria das estrelas de rock...
David Bowie: Sabes, não sou uma estrela de rock, compreendes? Tu próprio o disseste, não estou no rock’n’roll.
Mais um entrevistador: Isso é bom.
David Bowie: (acaba de beber um copo de leite) Estou mesmo com muita sede.
Mais um entrevistador: Muito bem, David. Talvez, para ti, se trate do passado, mas gostarias de falar sobre as tuas experiências no show business e...
David Bowie: (em tom de voz brincalhão) Bom, havia uma rapariga... E tivemos uma ligação! (todos se riem) Que experiências?
Mais um entrevistador: Hmm, concertos para dez mil pessoas...
David Bowie: Oh, sim.
Mais um entrevistador: As discográficas atrás de ti...
David Bowie: Sim.
Mais um entrevistador: Mediatização.
David Bowie: (risos) Estás determinado a colocar-me nessa...
Mais um entrevistador: Não, estiveste lá.
David Bowie: Sim, estive e deixa-me que te diga que é pegajoso. É como as trincheiras. É como sair para algum tipo de manobra militar, todo o processo. Hmm, é como isso do rock numa tour, há sargentos principais e os denominados pros e era “Ok, façam as malas! Em frente!”. E, então, armávamos as tendas num Hilton frio e em alguns Holiday Inns e... Detesto o processo. Acho-o abominável.
Mais um entrevistador: Começou por pretender ser rock’n’roll informal e transformou-se no tipo de coisa de uma grande corporação?
David Bowie: Uma enorme arena, sim. Eles conseguem fazê-lo.
Mais um entrevistador: É o mesmo com a indústria discográfica?
David Bowie: Hmm, sim, atualmente não lido com essa gente de modo muito direto. Ou seja, não tenho nenhum tipo de gestão. Antes, nunca sabia o que se passava. Estava fora de tudo o que acontecia porque essas (começa a falar num tom brincalhão, enfatizando responsabilidade) responsabilidades, David, foram-te retiradas, David, para que possas ter liberdade para compor, David. (faz o gesto de contar notas de banco) Eu compunha e eles ganhavam dinheiro.
Mais um entrevistador: Não há gestão?
David Bowie: Não, não há gestão.
Mais um entrevistador: Então, quem trata da contabilidade?
David Bowie: Bom, eu e mais alguém.
Mais um entrevistador: Certo. Hmm, entrevistas...
David Bowie: Hmm.
Mais um entrevistador: Dás muitas?
David Bowie: Não, é a primeira vez que faço algo assim para um álbum. E, para ser honesto, a razão pela qual o faço é que quero dar ao álbum o máximo de oportunidades possível. Porque se trata de um... (num tom brincalhão) Bom, se não soubesse que ia chegar ao ouro em três dias, não o teria comprado! (risos) Com toda a honestidade, é por isso que aqui estou... Para fazer isso. Não esperava que o recebessem com tanto entusiasmo. Estou espantadíssimo.
Mais um entrevistador: Quando te sentas com novos jornalistas e novas perguntas e...
David Bowie: Novas perguntas, a maioria das vezes, não. (sorri)
Mais um entrevistador: Ok. Tens alguma pergunta para mim?
David Bowie: Oh, não. Eu tendo a... Eu costumo reagir com uma tentativa de destruir a entrevista! (risos) E isso costuma levar a novas perguntas.
Mais um entrevistador: Mas... Estava a pensar... Só fazes isto talvez uma vez por ano...
David Bowie: Sim. Bom, é a ideia de me tornar numa máquina se me perguntarem, no mesmo dia, a mesma coisa umas dez vezes, se forem dez pessoas diferentes. Sinto-me muito tentado a inventar novas respostas porque me aborreço muito rapidamente. (risos) E sinto-me um papagaio à quinta entrevista. E algo de muito estéril e bolorento quando chego à décima.
Mais um entrevistador: Fazem-te perguntas sobre coisas que disseste há já dez anos.
David Bowie: Oh, sim. Mas eu costumava fazer uma coisa horrível que parei de fazer. Hmm... Lia algo que nunca tinha dito num jornal e adotava esse ponto de vista para perceber que tipo de reação causaria e se surgiria uma terceira reação a partir daí. Então, divertia-me bastante a mergulhar nas ideias que os outros tinham de mim, a adotá-las durante algum tempo.
Mais um entrevistador: Às vezes, isso escapava um bocado ao controlo...
David Bowie: Oh, claro! Mas eu trabalho em terreno perigoso. Quero dizer, é por isso que...
Mais um entrevistador: E as pessoas começam a falar de ti como sendo um fascista e tudo o mais...
David Bowie: Sim, eu sei. É atroz.
Mais um entrevistador: Sim. Mas não passa de um disparate.
David Bowie: Sou inteiramente apolítico! (risos) Em absoluto. Não tenho... Não me cabe fazer política, sendo o tipo de artista que sou, ou seja, alguém que procura capturar o ritmo das variações.
Mais um entrevistador: Hmm-hmm...
David Bowie: E adotar qualquer visão política ou fazer política, porque o meu trabalho consiste em observar o que acontece. E quaisquer declarações que possa ter feito nesse sentido foram uma reação geral e uma observação teatral do que me parecia ver que estava a acontecer em Inglaterra.
Mais um entrevistador: Certo. E ainda não aconteceu, mas...
David Bowie: Não, não aconteceu, graças a Deus. Mas que é que se faz com isso? Ridiculariza-se. É logo a primeira coisa a fazer. Senti-me espantado que ninguém reparasse no que estava a acontecer. E parece que a atenção para essa situação cresceu desde que falei.
Mais um entrevistador: Era o que ia dizer. Quero dizer, estávamos a discutir o poder e disseste que tínhamos a mania do...
David Bowie: Não, não se trata de poder, trata-se de observação social, se não te importas... O poder pertence aos media. Eu talvez tenha... hmm...
Mais um entrevistador: Mas são os media que falam contigo...
David Bowie: Tenho as observações... Oh, sim, mas é a sua combinação e o seu enredar do que é e do que não é e do que fariam com que fosse que oferece às pessoas uma informação muito distorcida de pontos de vista.
Mais um entrevistador: Bom, voltemos a isto só por um instante, quero dizer, podes negá-lo ou não, mas o que se passa é que cem mil miúdos te tratam como, leem tudo o que dizes...
David Bowie: Não acho. Estás a ver, isso é uma generalização. Um puto não sai e vive a sua vida em função de mim. Pode comprar os meus álbuns quando saem, pode adotar o meu estilo de cabelo, mas é aí que tudo termina. Nunca vi, relativamente a nenhum ídolo do rock, os miúdos de tal forma embriagados por tudo que o vivam como o seu mito. Acho que estamos a ir longe demais, não é assim que funciona. Não digas às pessoas que funciona assim porque não é verdade.
Mais um entrevistador: Eu sei. Só te queria ouvir dizê-lo.
David Bowie: Bom, acabaste de o ouvir. (risos)
Mais um entrevistador: Ver as pessoas conduzir as suas vidas de acordo com a tua ou coisa do género...
David Bowie: Não acho de todo que seja esse o caso. Acho que o ouvinte médio de rock coleciona informação a partir dos discos e dos concertos e não de uma natureza etérea. É difícil dizer que informação possa ser, mas é por isso que as pessoas vão aos concertos de rock. E eu gosto do processo de dar e receber informação, que é o que acho que acontece.
Mais um entrevistador: Uma das coisas que referiste frequentemente foi que as pessoas precisam de um líder, certo? E isso liga-se ao rock’n’roll, o que leva as pessoas a procurar músicos com quem possam...
David Bowie: O líder que poderão ter é o que os olha diretamente do espelho. Então, têm que ser capazes de compreender esse espelho muito bem. Nessa altura, essa pessoa poderá liderá-los.
Mais um entrevistador: Achas que podes fazer isso se, por exemplo, relativizares toda a situação?
David Bowie: Não sei. (em tom de brincadeira) Ouve, ó amigo, não sou psiquiatra! (risos)
Outro entrevistador ainda: Disseste que as pessoas não se guiam por ti, mas achas que poderás influenciar um pouco a forma como pensam? Porque ouvem os teus discos, vão aos teus concertos...
David Bowie: A influência só é aceitável se for assumida pela pessoa por iniciativa própria. Hmm... Não. Não influenciar da maneira como acho que pretendes implicar... Corrige-me se estiver errado... Mas estás a falar numa influência insidiosa, um tipo de influência rastejante que leva as pessoas a fazerem coisas inconscientemente porque parece que estou a dizer que o façam? É isso que queres dizer?
Outro entrevistador ainda: Sim.
David Bowie: Não. Não. Porque há demasiadas imagens para que as pessoas possam ser influenciadas por alguma coisa específica. E é o que estou a procurar fazer com a nova música, encontrar uma nova linguagem que não tenha esse tipo de influência imagética.
Outro entrevistador ainda: Achas que as pessoas compreendem essa linguagem?
David Bowie: Acho que sim, com certeza. Porque acho que as pessoas, especialmente num contexto de cidade, pensam por fragmentos, ao contrário de alguém do campo que pensa de modo mais linear... Bom, trata-se de um tipo de filosofia muito batida e relaxada. Mas é... Pensam de modo muito mais linear, em frases conectadas. Os agricultores podem pensar “Vejo uma vaca no campo, ela dá-me leite”. Estou com a mania do leite hoje! “Dá-me leite”. Mas alguém da cidade vê uma camioneta que passa na rua e pode pensar “O que é que vai ser o jantar? Um rapaz é atropelado por um autocarro. Fenda contra muro”. Esse tipo de coisas. Então, está a pensar em termos de, talvez, mil imagens diferentes a cada instante. E não sabe que está a pensar de um modo diferente dos seus antepassados. E a linguagem que o Brian e eu estamos a criar é uma linguagem que se pode relacionar com esse modo de pensar.
Outro entrevistador ainda: Achas estranho que, daqui por uns anos, estejas a tocar para públicos mais ou menos com a idade do teu filho?
David Bowie: Hmm... Eu... É isso que vou estar a fazer? Meu Deus!
Outro entrevistador ainda: É isso que vais estar a fazer. Quero dizer, miúdos que foram ao teu espetáculo têm uns 7, 8 anos...
David Bowie: Foi extraordinário. Nunca antes vi ninguém tão novo ir a um espetáculo. Quero dizer, 7 ou 8 anos... É estranho.
Outro entrevistador ainda: Alguma vez tocarás em Las Vegas?
David Bowie: Oh! (risos) Las Vegas? Não, não estou a ver isso acontecer. Não está, de modo algum, no meu horizonte mais próximo.
Outro entrevistador ainda: Ok. Obrigado.
David Bowie: Obrigado e (dirigindo-se aos restantes jornalistas) obrigado.
(adicionado em 18 de julho de 2019)